Experiências e sensações com a prática de Tai Chi e Tui Sou ( Push Hands) e etc.

pushhands

Tenho algumas sensações nestas primeiras fases de vivência. Acredito que no Push Hands esteja a essência do Tai Chi, como se fosse a maneira corporal de explicar os fundamentos taoístas:

Algo em constante movimento e em constante transformação;

Que não força e nem abandona o fluxo natural;

Que instaura a necessidade de escuta de si e do outro;

Que faz com que você esteja presente e inteiro dentro do seu próprio corpo;

Que faz com que a minha expansão seja o recolhimento do outro, e que a expansão do outro seja o meu recolhimento, havendo assim equilíbrio e diálogo nessa relação;

Que pede que você reconheça seus limites e trabalhe para que eles se ampliem – E uma vez que você amplia seus limites, você acaba por ampliar também sua capacidade de se relacionar com o outro.

E tenho sentido que quanto mais aguçados estão esses canais de percepção, mais evidentes ficam as verdades que cada corpo entrega (inclusive o meu). Os lugares onde as pessoas bloqueiam, para onde elas se inclinam, a dificuldade em esperar e receber o tempo do outro; Começo a perceber que por esses movimentos podemos ler muitas informações sobre as pessoas.

E tudo que vivi até agora no Tai Chi obedece aos mesmos princípios. Sinto que nenhum movimento carrega um ponto final. É como se cada movimento completasse seu ciclo completamente, mas ao chegar na sua última gota, imediatamente ele é “costurado” no próximo, sem deixar espaços de desconexão. –  Assim como no Push Hands, e assim como no fim do dia e no começo da noite. O Sol completa sua função a cada dia, mas não há ponto final e o início de um novo parágrafo para que a noite chegue. Tudo se costura em harmonia.

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 Sobre o meu processo de desenvolvimento, desconfio neste momento que eu perca muita energia não só pelo desgaste físico das minhas atividades diárias, mas por estar há muitos anos trabalhando minha mente num fluxo invertido de energia, e portanto é esse fluxo que me é familiar. É muito fácil cair nele novamente. Por isso a necessidade de constância nos treinos é fundamental, para que eu me familiarize com o fluxo natural, passando a me reconectar com mais facilidade, até que isso seja mais simples. Mas ainda sinto muita dificuldade em me manter conectada por um longo tempo depois dos treinos.

E também percebo que sou bastante insegura e desconfiada das minhas próprias sensações, porque algumas vezes me vi calada diante do espaço que o Professor oferece para que os alunos comentem suas experiências, achando que eu não tinha nada para contar. Mas depois eu ouço as outras pessoas e reconheço na experiência delas aquilo que eu também vivenciei mas não acreditei. Como se fosse mais fácil confiar nas minhas sensações depois que elas já foram legitimadas nas palavras de outras pessoas. Essa ficha me caiu na aula anterior, e acho que ter percebido isso vai destravar algum lugar importante para mim.

Eu tenho sentido mais claramente a conexão pelo topo de cabeça, e parece que consigo ajustar meu pescoço de uma forma que eu sinta a passagem de energia livre para que ela desça nesse caminho. Recentemente o abraço de árvore ganhou muito mais brilho, e na última aula eu senti um aquecimento maior do que das outras vezes. Antes parecia que só as mãos esquentavam, e agora parece um calor mais profundo, no peito e nas pernas.

Na meditação eu tenho dificuldade em encontrar o Lin Tai, mas fazendo o exercício do reforço eu consigo percebe-lo mais facilmente, depois que a energia sobe por traz da coluna e chega até ele. Quando eu consigo me conectar na meditação, a sensação depois é de um silêncio interno mais denso, e só por uma única vez eu tive a sensação de um grande clarão e a sensação de uma queda, e nesse dia eu adormeci logo em seguida sem nem lembrar de colocar o despertador. Mas a minha desconfiança das minhas próprias sensações me deixou a dúvida se isso era uma boa conexão ou um sono profundo.

De duas semanas pra cá eu comecei a sentir uma leve alteração na lombar, como se começasse a ter algum espaço pra fluir alguma energia que não passava há mais de dez anos, desde as minhas lesões mais sérias. Acho que é como se essa região começasse a “respirar” um pouco mesmo.

Olhar para dentro tem sido um desafio e eu sei que é a única porta por onde eu posso entrar para acessar o caminho.

As aulas que tenho dado tem servido para clarear muito minhas ideias, porque faço conexões na minha cabeça e preciso verbaliza-las. O que eu digo para os alunos eu também estou dizendo a mim. E eu me sinto útil em poder ser o meio para apresentar para eles essas ferramentas que também estou começando a aprender a manusear agora.

 

10/05/2016  Flávia Lucato Castardelli

 

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